PARA QUEM É O MINDFULNESS?
- Leila Von Ágape

- 19 de jul.
- 3 min de leitura
"Ah isso é coisa daqueles que estão “numa fase zen!", "Ah, Isso é para quem tem tempo para se desligar!" "Ah isso é coisa de espiritualidade diferente da realidade!" Já pensou isso? Parece algo "etéreo", reservado a pessoas muito calmas, muito" iluminadas", muito distantes do que vive no seu dia a dia.

Mindfulness não é um estado místico. Não é preciso estar de olhos fechados em silêncio absoluto para praticar. E, acima de tudo, mindfulness não é um escape da vida: é um treino para vivê-la com mais lucidez.
É para quem sente que anda no automático. E não andamos todos? É para quem acorda cansado, mesmo depois de horas de sono.
É para quem responde sem pensar, come sem saborear, vive sem respirar... fundo.
É para quem carrega o passado e se preocupa com o futuro ao ponto de esquecer o agora.
Mindfulness é aptidão. Treina-se como se treina um músculo. Com prática, com repetição, com atenção.
E quanto mais treinamos, mais percebemos que o presente é o único lugar onde podemos viver plenamente.
Não se trata de parar o mundo: trata-se de parar dentro de nós.
Observar. Entender. Escolher. Tudo com mais clareza.
Aprender a estar presente é uma ferramenta poderosa e prática. Serve para gerir o stress, melhorar o foco, regular emoções, comunicar com mais empatia. Não é luxo, nem esoterismo. É saúde mental. É maturidade emocional. É liberdade interior.
Mindfulness é para quem quer estar mais inteiro na própria vida.
Mais consciente das escolhas. Mais sereno nas decisões. Mais livre das reações impulsivas que só repetem o passado.
Mais de 20 anos nesta prática não me tornou alguém “diferente”. Tornou-me mais verdadeira. Mais atenta. Mais viva. Percebi que a paz que procuro não está na ausência de problemas, nem no silêncio dos outros. Está na forma como percebo o que acontece à minha volta e, acima de tudo, dentro de mim. E essa percepção foi o que transformou tudo.
No início, pensei que seria apenas uma técnica de respiração. Um escape para os dias mais difíceis. Mas o mindfulness mostrou-se muito mais do que isso. Mostrou-se um treino. Um caminho. Um processo de regresso a mim mesma.
A prática diária de estar presente ensinou-me a observar sem julgar. A escutar sem reagir. A sentir sem fugir ou me envolver demasiado nas emoções. Comecei a perceber os pensamentos que me condicionavam, os padrões que repetia sem perceber, os medos que disfarçava de lógica. Tudo ficou mais nítido. Mais real.
Deixei de tentar corrigir quem eu era. Percebi que não era eu que precisava de mudar para agradar ou encaixar. O que precisava era de mudar a minha forma de ver. A minha forma de me ver. A minha forma de interpretar a vida.
Foi nesse ponto que comecei, com naturalidade, a soltar o que já não fazia sentido. Relacionamentos, hábitos, crenças, exigências. E nada disso foi embora com dor. Foi saindo com leveza, porque simplesmente deixei de o alimentar. O que antes parecia essencial revelou-se apenas ruído. E quando parei de dar energia ao que me prendia, tudo começou a mudar.
Hoje sei que o mindfulness não é apenas um exercício de foco. É uma libertação silenciosa. Uma prática de presença que me devolve a verdade. Que me ensina, todos os dias, a viver com intenção e não em piloto automático.
Saí da gaiola. Aquela que eu própria tinha construído com pensamentos padronizados, exigências alheias e uma visão muito limitada de mim mesma. E, cá fora, encontrei espaço.
Espaço ilimitado para respirar. Espaço ilimitado para viver os meus próprios valores. Espaço ilimitado para aprender sem ter medo de mudar de opinião quando a realidade se mostrar diferente. Espaço para desenvolver as minhas próprias ideias e ideais. Espaço para arriscar. Espaço para falhar. Espaço para rir das falhas. Espaço para seguir em frente mesmo com medo, mesmo com dúvidas e incertezas. Espaço para dizer que não. Espaço para me afastar, sem dar quaisquer explicações, de quem não me respeita, de quem não fica feliz pela minha felicidade e de quem tenta competir comigo. Porque eu não vim aqui para competir.
Sou uma cientista. Acredito que somos todos. Viemos aqui para observar, questionar, experimentar, analisar, desenvolver as nossas conclusões e devolver ao mundo quem somos.
Fora da gaiola encontrei esse espaço para ser livre.
Então, Mindfulness é para quem quer ser livre.
Saia da gaiola e todo o céu será seu.
Que todos os seres despertem.
Leila Von Ágape


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